domingo, 23 de fevereiro de 2014

1º Blablablá do ano: como foi?

Kishimoto, Inês e João - resistência audiovisual, cultural e social (foto: arquivo Lígia Regina/Éder Lima)

1º Blablablá do ano: como foi?


Posso iniciar esse rascunho falando uma besteira enorme (minha especialidade, aliás), mas uma das coisas que tenho mais curtido nos últimos tempos é “antes e depois” dos eventos na Casa Amarela. Além dos próprios eventos, é claro!
Ontem (22 de fevereiro), por exemplo, para a primeira edição do Blablablá em 2014, convidamos o antropólogo e pesquisador Alexandre Kishimoto, autor do livro “Cinema Japonês na Liberdade” (Ed. Estação Liberdade), o cineasta João Brito e a professora e também cineasta Inês Santos para um bate-papo com o público
Antes, porém, a conversa informal rolou solta. Angel e Fábio, representando a Estação Liberdade, montando um pequeno estande dentro do espaço, com muitas obras do cast da editora, foram os primeiros a chegar. O insuperável café da Celinha Yamasaki operava suas maravilhas no olfato da audiência, havia uma grande dispersão no ar, grupos animados confabulavam e rolava uma intensas troca de ideias, números de celulares, cartões de visita e abraços. Aos poucos a Casa foi enchendo, ganhando gente...
Dada a hora a mais nas conversas, eis que iniciamos o evento, com o violão primoroso de Éder Lima acompanhando a voz maviosa de Lígia Regina, sua musa e intérprete refinada. Estava dada a largada.
Convidados a se apresentarem, Inês, João e Alexandre não se fizeram de rogados. Compartilharam suas experiências, lançaram propostas, criticaram, sugeriram. Somaram, multiplicaram.
Já na apresentação, João Brito (de filmes como "Botinas no Elevador" e "Futricando na Vila Mara", "independentes", entre outros), soltou essa: “cursei Eletrônica. E usei a Eletrônica para entrar no mundo do cinema”. E confessou mais, “tinha uma loja onde arrumava projetores”. No seu turno, Inês sentenciou que “a minha experiência com o cinema marcou a minha relação com a arte”. sobrava ironia em um, poesia em outra.
Logo os convidados começaram a ser inquiridos por uma platéia vibrante e curiosa, num diálogo prazeroso, onde a troca de experiências e profusão de idéias foi o tônus vital. No meio do burburinho de perguntas e respostas, em dado momento Alexandre Kishimoto foi questionado sobre como nasceu seu interesse pelo cinema japonês enquanto investigação antropológica e sociológica. E ele, com argúcia fundamentada e calma zen, mandou essa: “o cinema japonês era uma ritualização. Ir ao cinema na Liberdade era um evento social e cultural”. 
Esse foi, segundo o pesquisador, um dos motes para sua pesquisa. Outros, ainda segundo Alexandre, têm a ver com suas origens nipônica, a paixão pelo cinema e a procura pelo entendimento dessa força avassaladora, que era o cinema de rua até algumas décadas atrás. Em seu livro “Cinema Japonês na Liberdade”, ele afirma que na década de 1950, o bairro da Liberdade, em São Paulo, chegou a ter quatro salas de cinemas dedicadas exclusivamente ao cinema japonês. Fato que ele confirmou durante sua palestra no Blablablá. 
Com poucas divergências em seus apontamentos, os três convidados ainda assim reafirmaram suas personalíssimas observações. Como a dedução arguta de Inês,quando falava de seus conhecimentos do universo infantil. “A arte, na educação, não tem reconhecimento. Nem valor de conhecimento”, lamentou ela. E o inflamado João Brito, ainda falando de suas iniciações, lembrou que quando estudava Rádio e TV, no SENAI, paradoxalmente, não tinha tv em casa.
E já que estamos voltando às memórias iniciais do encontro, vale lembrar que depois do questionamento de Carlos Bacelar, músico, que logo na primeira rodada de participação do público, perguntou a Kishimoto sobre o porquê de seus estudos étnicos brasileiros, este afirmou: “porque as comunidades negras e suas manifestações podem ter várias citações em São Paulo e Rio de Janeiro, mas localmente, fora dos grandes centros,  elas sofrem muito, principalmente a intolerância religiosa”.
O balanço final do Blablablá indica que o caminho que a Casa Amarela está fazendo, oferece alguma luz, indica possíveis saídas e  propõe portas de entrada. Se pudermos usar este primeiro encontro como exemplo, é plausível que acreditemos que outros significarão ainda mais possibilidades, no cardápio que estamos propondo para a cultura e a sociedade de São Miguel, de São Paulo, do Brasil e do mundo. Pois inteligências como as de Inês Santos, Alexandre Kishimoto, João Brito e do inquieto e vário público não podem ser desperdiçadas. Elas somam. E multiplicam.
Ah, sim, depois do apito final, ficamos mais de uma hora entre cervejas, café, petiscaria e papo a granel. E o rico sortimento literário que a editora Estação Liberdade trouxe para a casa. Eu mesmo voltei pra casa com 6 livros novos.

Escobar Franelas



fotos (arquivo Lígia Regina/Éder Lima)


fotos (arquivo Luka Magalhães)
Arte de Manogon

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