terça-feira, 11 de julho de 2017

57º Sarau da CA - Silvia Mª Ribeiro comenta

57º Sarau da Casa Amarela com Akira Yamasaki e Sueli Kimura
sobre domingo à tarde que varou a noite?
um bando de loucos é pouco
mas louco é quem diz que não é feliz
nós somos cantoria poesia arte e amizade
uns comes e bebes pra dar garantia
Sarau da Casa Amarela é pura energia
estou feliz que só retornei já era outro
o dia qu'eu nem ia e (me) acabei fundo
ainda bem meus amantes amigos
teve ótimo!!

57º Sarau da Casa Amarela - Adriana Aneli comenta


Uma casa amarela...

July 10, 2017


Pra tanto asfalto
Flores roxas e amarelas
Descobriram a cura

Paulo D’Auria


Sexta, 18h, fomos ao cinema; espectadores deste mesmo filme, domingo, 15h, chegamos a São Miguel Paulista. Em Poesia sem fim, Alejandro Jodorowsky nos esperava com sua urgência de liberdade: “Qual é o sentido da vida? O cérebro faz perguntas. O coração dá as respostas. A vida não tem sentido. Vive! Vive!”.  Para esta mesma experiência sensorial a porta se abriu no domingo.

À entrada, bem-nos-vindo, o poeta atemporal esperava. Os habitantes mais antigos pouco a pouco nos socorreram à sua companhia. Entre fotografias, livros, esculturas, poetas e músicos afinavam seus instrumentos. Ao achar o tom exato da palavra poética, Akira Yamasaki inaugurou o ritual coletivo de considerar a todos como parte de si mesmo: começa o sarau d’A Casa Amarela.

Voz, violão, percussão... O ritmo é virtuoso. Rompem o silêncio versos em coro e megafone: poetas de rua em palavras e MPB, performances e gestos. A poesia sussurrada, falada, gritada construindo a ponte entre o onírico e a realidade, o apelo à consciência e ao humor –  nossa lanterna dos afogados.

Feita de tijolos, grafites e gente que acredita, n’a Casa Amarela nada é dissonante. Todo o esforço pela arte se costura em tecido único: o apetite pela vida. A força criativa, motriz dos participantes, faz nascer poesia na hora; transforma  poema em música, e, entre uma conversa e outra, constrói amigos de verdade.

Saímos antes de findar a festa, e por isso, com o coração partido. Da rua, vimos a luz e o canto aquecer a casa onde a magia acontece: ali todo dia é domingo, mas no nosso táxi, já era segunda-feira.

Adriana Aneli Costa Lagrasta

domingo, 2 de julho de 2017

Inéditos & Inacabados - Oficina de microcontos com Fabiano Sorbara

Arte de Luka Magalhães

Em 24 de junho a Casa Amarela -Espaço Cultural recebeu uma simpática oficina de microcontos ministrada por Fabiano Sorbara. O encontro se deu dentro do projeto Inéditos & Inacabados, que ocorre a cada dois meses na Casa.
Escritor e artista visual, Sorbara trouxe para o grupo os conceitos e propostas do que é o universo dos microcontos, "um gênero literário ainda não reconhecido oficialmente, mas praticado por muitas pessoas, principalmente depois do advento das redes sociais". De acordo com suas palavras, isso se deve ao ritmo de urgência das pessoas quando se propõem a ler no ambiente de internet. O que, segundo ele, pode ter levado escritores e escritoras a embarcarem  cada vez mais profundamente no mundo da escrita curta.

Abaixo, estamos disponibilizando textos que foram produzidos a partir das sugestões de Sorbara, baseadas no tema Sombra:
Fabiano Sorbara em clique de Luka Magalhães

FABIANO SORBARA
Microcontos apresentados durante a oficina: 
1) Ele tinha alma de escritor, pena ser analfabeto!

2) O almanaque do sexo foi comido pelas traças, ninguém, nunca mais gozou de sua leitura.

3) Mil e duzentos cavalos de potência e o único a usar ferraduras é o motorista.

4) Pobre rapaz, encontrava-se atrás dos muros do hospício, não entendia o porque de estar ali, dizia ele para o doutor:
- Se Dom Quixote pode olhar um moinho e ver um gigante, por que não posso olhar para um ventilador e ver um anão?

5) Lavou a barba com shampoo e condicionador, com esmero secou e penteou os longos fios, com eles fez uma trança impecável, olhou-se no espelho e curtiu o novo visual. A mulher barbada também tem suas vaidades.

6) O maior calote de Armando só foi descoberto quando chegou no céu. Não pagou a alma que o diabo comprou.

7) A medicina ainda não é capaz de sanar os elevados números de mortes súbitas. Mas eu acho que isso é devido a

Exercício com a palavra Sombra:
1) Ariele removeu batom e sombra, para Osvaldo renascer.

2) Queria ser famoso, ter o rosto conhecido em todos os cantos, por isso tornou-se ator. Infelizmente, só conseguiu atuar no teatro de sombras.

3) Sentou-se à sombra da jabuticabeira e chupou duas laranjas.


Oficina. Foto de Sueli Kimura


INÊS SANTOS
"Observação"
Na sombra, ele não quis contar a história. (ensaio 1)


"Injustiça social "
À sombra dos seus bens, eles não quiseram escrever uma história justa.  (ensaio 2)


"Pobre Aquiles"
No passar dos dias, a sombra estendida do seu calcanhar, cobria o chão e mostrava sua fragilidade.  (ensaio 3)

(IS)


ROSINHA MORAIS
Silenciosa,  ela observava a rua através da janela. A rua se apaixonou. No dia em que saiu da casa foi sugada por uma cratera. (ensaio)

Diante do espelho o olhar parecia opaco. Usou uma sombra cintilante. (ensaio sobre a palavra Sombra)

Sonhava ser lua! (ensaio em três palavras)

(RM)


LUKA MAGALHÃES
Quando jovem
saiu de casa,
mas deixou a janela aberta (ensaio 1)

fugiu da chuva 
encontrou o mar invadindo a orla (ensaio 2)


acordou e  no meio da noite encontrou sua sombra dormindo (ensaio 3)

(LM)

SUELI KIMURA 
Ao plantar o pé de sakura no quintal, combinamos, eu e minha mãe, degustar nosso chá habitual à sua sombra.
Sakura cresceu, floriu e saboreamos nosso último chá.
(SK)

AKIRA YAMASAKI
sombras
tudo é ditadura
do fim nascido no começo
minha ternura mastiga
cabrestos ensanguentados
não há portas nem janelas
não há como ir nem voltar
pesada demais é a sina 
de ter sombras nas mãos
a solidão é mar vasto
no deserto do meu rosto
suicida potencial nessa noite
minha palavra corre perigo
a morte mora no sonho
dos loucos e das crianças
só levanto voo depois
que o sangue coagula
AY - 25/06/2017.

(para Fabiano Sorbara)


ESCOBAR FRANELAS
Ao meio-dia me dá a mão. À noite me segue. O Sombra é cego.
EF

MÁRIO NEVES
Linda demais ela veio até mim e disse: Leva-me para o quarto. Eu a levei, pena que era somente o ascensorista.
MN

JOSÉ PESSOA
No calor da terra quente caminhado sem sapato com os pés descalço.  Se rindo muito o calor da terra quente procurei logo depois lugar onde pudesse pisar . Que ali tivesse sombra.
JP


Fabiano Sorbana pelo olhar de Luka Magalhães

segunda-feira, 13 de março de 2017

Resfriado, nariz escorrendo, sinusite começando. Mas hoje tem sarau - por Luka Magalhães

foto: Luka Magalhaes


Domingão, “sol de rachar”, eu resfriado, nariz escorrendo, peito expectorando, com início de sinusite.  Parti para a Casa Amarela.



Nosso Sarau completando seis anos de existência. Lembro-me do primeiro sarau que fui, em 2011, com o homenageado Escobar Franelas, quando conheci Sueli, Akira, Sacha, Gilberto Brás, Big Charlie e outros tantos; éramos poucas pessoas na casa, mas já se respirava amizade, respeito e dedicação por todas as artes. Muitos saraus se seguiram, totalizando 53 eventos na Casa Amarela e mais alguns realizados em outras paragens (não contabilizo esses, por não terem acontecido na Casa Amarela... mas Akira diz “há controvérsias”).

E nesse sarau, comemorativo, alegre, entusiasmado, recheado de arte, amizade e amor, seria redundante dizer “foi lindo, maravilhoso, incrível, inesquecível, etc....E sim. Foi tudo isso!
Tivemos, por incrível que pareça, exatas seis horas de evento; iniciamos às 16:15 e o último acorde soou às 22:15. Não que a festa tenha durado isso, pois antes do início sempre temos nosso momento social, de boas vindas e conversa fiada (e afiada também) e após o último acorde tivemos nossas despedidas com votos de “nos vemos na próxima”.

No dia, nossos amigos do “Peixe Barrigudo”, uma página do Youtube que divulga artistas da periferia, organizada por uma galera competentíssima de Guarulhos (recomendo visitar a página), estava lá para filmar um programa com nosso sensei Akira e de carona com Sacha Arcanjo.  Por conta disso, a condução ficou no encargo deste que subscreve e do Escobar Franelas, que acabou tendo de dar suporte a outros pontos da Casa...

... então a apresentação do sarau ficou em minhas mãos (resfriado, nariz escorrendo, sinusite começando).

Nossos convidados especiais abrilhantaram o evento. Ivan Ferretti declamou e trouxe consigo uma trupe para lá de talentosa. Rosa Rocha mostrou para que veio, com sua poética e musicalidade deliciosa de se ouvir. Paulo Miranda se apresentou com parcerias musicais, tocava e seus amigos cantavam e em vários momentos a Casa Amarela cantou ao som dos acordes do Paulinho. Nossos “Cabras de Baquirivú” arrasaram, apresentando o CD “Destilado de Poesia”, composto de músicas com as poesias de Rosana Crispim da Costa e de quebra trouxeram uma surpresa, com a participação de Sandra Gomes Leal, cantando algumas canções do disco.

foto: Luka Magalhaes

Tivemos poesias, músicas, tivemos pessoas que cruzaram a cidade para prestigiar o evento, conhecer o espaço e participar do sarau.
Tivemos bolo, parabéns para você e muito mais.

Tivemos arte, respiramos  arte, fizemos arte e nos contaminamos pela arte.

Tivemos grandes artistas, tivemos um sarau que marcou merecidamente o aniversário de seis anos do evento.
...


Eu gosto de brincar, dizendo que na “Casa Amarela – espaço cultural”, existe  algo que contamina as pessoas que passam por lá. Quem conhece sempre vai voltar, quem se contamina, não quer sair de lá.


foto: Luka Magalhaes

“resfriado, nariz escorrendo, sinusite começando."
...nem me lembrei disso!

... a arte que existe no sarau da Casa Amarela nos faz pensar somente em coisas boas.