segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Blablabla por Alexandre Kishimoto

Alexandre Kishimoto - foto: Lígia Regina

Sábado tive a alegria de conhecer o coletivo da A Casa Amarela - Espaço Cultural, que reúne escritores, músicos, educadores, cineastas e pensadores da região de São Miguel Paulista. Encontrei gente de várias idades, conheci pessoas incríveis e pude reencontrar professores da rede pública da ZL - Inês Santos, Josafá Pereira da Silva, Célia Carvalho e Zulu de Arrebatá - que nos anos 2000 participaram comigo de uma experiência de apropriação do audiovisual nas escolas (foi neste contexto que conheci o grande cineclubista João Brito).

Conversamos sobre muitos assuntos, como a formação de público para a produção audiovisual independente, o papel dos educadores e alunos neste processo, a exibição de filmes como ato coletivo, ritual e reflexivo, a pesquisa sobre as salas de cinema japonesas do bairro da Liberdade, e o desafio de mobilizar os talentos da região (músicos, escritores, atores, fotógrafos, realizadores de audiovisual) para se contar, por meio de imagens e sons, as histórias locais.

Desde 2000 venho percebendo uma revolução cultural em curso, produzida por coletivos nas periferias urbanas de São Paulo. Saraus literários, grupos de teatro, apresentações musicais, hip hop, publicação e lançamento de livros de autores de várias regiões da cidade, produção e exibição de vídeos locais, reflexões, debates e construções colaborativas. Essa revitalização cultural é obra de coletivos como este da Casa Amarela que funcionam de forma comunitária, não de grandes instituições (empresas, ongs, governo) ou de políticas públicas (a função da política pública é apoiar coletivos como este).
Saúdo o pessoal da Casa Amarela pela oportunidade deste diálogo: Akira Yamasaki, Célia Yamasaki Silva, Sueli Kimura, Escobar Franelas, e o pessoal muito bacana que participou do Blábláblá. Muito obrigado!

obrigado, inês santos e joão brito arigatô, kishimoto-san

foto: Luka Magalhães

considero que foi histórico o 1º blábláblá de 2014,
roda de conversas que aconteceu no dia 22/02,
sábado passado, com participação de Inês Santos,
João Brito e Alexandre Kishimoto que debateram,
mediados de forma tranquila por escobar franelas,
dentre outras coisas, além de cinema, controle
econômico e ideológico da produção e distribuição,
a produção audiovisual independente. considero
que foi o mais produtivo dos blábláblás realizados
até hoje porque além da riqueza das informações,
conceitos e idéias produzidos pelos debatedores e
público presente no calor das conversas apontou
um caminho claro e turvo a ser seguido: o domínio
das técnicas e ferramentas para criação e produção
audiovisual como instrumentação para nós mesmos
escrevermos e contarmos a nossa história.

akira – 24/02/2014.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

1º Blablablá do ano: como foi?

Kishimoto, Inês e João - resistência audiovisual, cultural e social (foto: arquivo Lígia Regina/Éder Lima)

1º Blablablá do ano: como foi?


Posso iniciar esse rascunho falando uma besteira enorme (minha especialidade, aliás), mas uma das coisas que tenho mais curtido nos últimos tempos é “antes e depois” dos eventos na Casa Amarela. Além dos próprios eventos, é claro!
Ontem (22 de fevereiro), por exemplo, para a primeira edição do Blablablá em 2014, convidamos o antropólogo e pesquisador Alexandre Kishimoto, autor do livro “Cinema Japonês na Liberdade” (Ed. Estação Liberdade), o cineasta João Brito e a professora e também cineasta Inês Santos para um bate-papo com o público
Antes, porém, a conversa informal rolou solta. Angel e Fábio, representando a Estação Liberdade, montando um pequeno estande dentro do espaço, com muitas obras do cast da editora, foram os primeiros a chegar. O insuperável café da Celinha Yamasaki operava suas maravilhas no olfato da audiência, havia uma grande dispersão no ar, grupos animados confabulavam e rolava uma intensas troca de ideias, números de celulares, cartões de visita e abraços. Aos poucos a Casa foi enchendo, ganhando gente...
Dada a hora a mais nas conversas, eis que iniciamos o evento, com o violão primoroso de Éder Lima acompanhando a voz maviosa de Lígia Regina, sua musa e intérprete refinada. Estava dada a largada.
Convidados a se apresentarem, Inês, João e Alexandre não se fizeram de rogados. Compartilharam suas experiências, lançaram propostas, criticaram, sugeriram. Somaram, multiplicaram.
Já na apresentação, João Brito (de filmes como "Botinas no Elevador" e "Futricando na Vila Mara", "independentes", entre outros), soltou essa: “cursei Eletrônica. E usei a Eletrônica para entrar no mundo do cinema”. E confessou mais, “tinha uma loja onde arrumava projetores”. No seu turno, Inês sentenciou que “a minha experiência com o cinema marcou a minha relação com a arte”. sobrava ironia em um, poesia em outra.
Logo os convidados começaram a ser inquiridos por uma platéia vibrante e curiosa, num diálogo prazeroso, onde a troca de experiências e profusão de idéias foi o tônus vital. No meio do burburinho de perguntas e respostas, em dado momento Alexandre Kishimoto foi questionado sobre como nasceu seu interesse pelo cinema japonês enquanto investigação antropológica e sociológica. E ele, com argúcia fundamentada e calma zen, mandou essa: “o cinema japonês era uma ritualização. Ir ao cinema na Liberdade era um evento social e cultural”. 
Esse foi, segundo o pesquisador, um dos motes para sua pesquisa. Outros, ainda segundo Alexandre, têm a ver com suas origens nipônica, a paixão pelo cinema e a procura pelo entendimento dessa força avassaladora, que era o cinema de rua até algumas décadas atrás. Em seu livro “Cinema Japonês na Liberdade”, ele afirma que na década de 1950, o bairro da Liberdade, em São Paulo, chegou a ter quatro salas de cinemas dedicadas exclusivamente ao cinema japonês. Fato que ele confirmou durante sua palestra no Blablablá. 
Com poucas divergências em seus apontamentos, os três convidados ainda assim reafirmaram suas personalíssimas observações. Como a dedução arguta de Inês,quando falava de seus conhecimentos do universo infantil. “A arte, na educação, não tem reconhecimento. Nem valor de conhecimento”, lamentou ela. E o inflamado João Brito, ainda falando de suas iniciações, lembrou que quando estudava Rádio e TV, no SENAI, paradoxalmente, não tinha tv em casa.
E já que estamos voltando às memórias iniciais do encontro, vale lembrar que depois do questionamento de Carlos Bacelar, músico, que logo na primeira rodada de participação do público, perguntou a Kishimoto sobre o porquê de seus estudos étnicos brasileiros, este afirmou: “porque as comunidades negras e suas manifestações podem ter várias citações em São Paulo e Rio de Janeiro, mas localmente, fora dos grandes centros,  elas sofrem muito, principalmente a intolerância religiosa”.
O balanço final do Blablablá indica que o caminho que a Casa Amarela está fazendo, oferece alguma luz, indica possíveis saídas e  propõe portas de entrada. Se pudermos usar este primeiro encontro como exemplo, é plausível que acreditemos que outros significarão ainda mais possibilidades, no cardápio que estamos propondo para a cultura e a sociedade de São Miguel, de São Paulo, do Brasil e do mundo. Pois inteligências como as de Inês Santos, Alexandre Kishimoto, João Brito e do inquieto e vário público não podem ser desperdiçadas. Elas somam. E multiplicam.
Ah, sim, depois do apito final, ficamos mais de uma hora entre cervejas, café, petiscaria e papo a granel. E o rico sortimento literário que a editora Estação Liberdade trouxe para a casa. Eu mesmo voltei pra casa com 6 livros novos.

Escobar Franelas



fotos (arquivo Lígia Regina/Éder Lima)


fotos (arquivo Luka Magalhães)
Arte de Manogon

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

baita sarau



foi um baita sarau, um sarau de baitas. um sarau de poetas
e compositores da raça dos baitas. foi mais uma comovente
e arrepiante celebração da alegria, da paz e da amizade sob
o signo da poesia e da música. foi o 20º sarau da casa
amarela que aconteceu ontem – 09/02/2014 e teve como
convidado especial o genial cantor e compositor ceciro
cordeiro, poeta essencial da estirpe dos baitas. foi sob um
calor escaldante de cerca de 40 graus e embalados pelo
conceito de uma ação cultural entre amigos para levantar
uma grana para a casa amarela que dezenas de artistas do
bairro de são miguel paulista e de outras regiões da zona
leste reuniram-se para gravar o 1º cd do sarau da casa
amarela, com poemas e canções captados ao vivo no sarau
de ontem e no do mês que vem, o 21º. foi emocionante e
inesquecível e sei que vou cometer a falta de educação de
esquecer alguém mas preciso dizer muito obrigado a todos
que participaram deste evento e por isso vou dar nome aos
bois. então lá vai: obrigado, Escobar Franelas, Ligia Regina,
Célia Yamasaki Silva, Eder Lima e Francisco Xavier; obrigado
João Caetano Do Nascimento, Lucas Kabral, Luka Magalhaes,
Manogon Manoel Gonçalves, Ronaldo Ferro e Sandra Frietha;
obrigado, Ceciro Cordeiro, Selma Sarraf Bizon, Costa Senna,
Juliana Neves Pedro, Brenner Paixão, Rafael Carnevalli e
Veronica Lopes, muito obrigado; Selma Bento Baia, Tiao Baia,
Seh M. Pereira, Solange Kono, Clarice Yamasaki, Inês Santos,
Jorge Gregorio Gregorio, Joaquim Lima e Francisco Americo;
muito obrigado mesmo, Celia Maria Ribeiro, Carlos Bacelar,
Gilberto Braz, Alberto Luiz Rio Franchi, Caroline Schneider,
pérola negra, joãozinho, Marcel Acauam, Romildo de Souza
e Lucas Afonso; obrigado, Drica Campos, sidney kitagawa,
Andrea Ferraz de Campos, Carlos Alberto Rodrigues,
Henrique Gabriel Lima, Carlos Roberto Scalla, Sueli Kimura,
Mano Cabelo Titchosman, vagninho e gildo passos; e o mais
especial obrigado às pessoas aos quais esqueci de mencionar.
obrigado mesmo, todos vocês são da laia dos baitas.

 akira - 10/02/2013

foto: Francisco Xavier

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

20º Sarau da Casa Amarela - como foi?

Ceciro Cordeiro,  atração especial do 20º Sarau da CA (foto Xavier)


Mais de 100 pessoas. Umas chegaram antes mas foram embora no meio. Outras chegaram na metade e foram embora depois do fim. Muitas chegaram depois e saíram antes. E muitas, muitas outras chegaram antes e foram embora bem depois. Não importa. Foram 4 horas de evento no caldeirão da Casa Amarela. Quem resistiu, comeu as cerejas do bolo. Quem insistiu, também participou do culto festivo à deusa Poesia, ao seu modo, do seu jeito, da maneira que achamos que pode ser. Foi assim o 20º Sarau da Casa Amarela.

Uma tarde de domingo, atípica, a primeira em que Hideko, mãe de nossa queridíssima Sueli Kimura, era celebrada como “kami”, como insistiu Akira na abertura. O poeta, mentor e organizador do “sarau da amarela”, lembrou que na tradição oriental ela, tornara-se flor, nuvem, sol, lua, poesia! E nós ali, capitaneados pela poesia lírica, urgente, pungente de Éder Lima, Sacha Arcanjo e do próprio Akira, rendemos nossos pensamentos à matriarca que tornou-se estrela nessa semana.  
Emocionado, o japa não agüentou o tranco e cedeu o microfone para que eu e Ligia Regina tomássemos conta do evento. Desconfio que o japa deu bala pra criança.
Fizemos, né, Lígia? Fizemos, do nosso jeito. Quer dizer, sem jeito.
O convidado especial dessa 20ª edição do Sarau da Casa Amarela era o cantor, compositor, enigmático e performático Ceciro Cordeiro. E foi assim, de forma inusitada, que ele subiu ao palco acanhado da casa, pequeno para seu tamanhão, e ali cantou e contou histórias, desde lá lonjão, quando, na década de 1970, começou a  cantarolar, influenciado pelos repentistas e pelo canto das lavadeiras de seu Pernambuco natal, cismou que queria cantar também.
A tarde avançava acelerada, na música serelepe de Ceciro, quando este cedeu seu banquinho para um desfile de pérolas e outras pedras preciosas. Atendendo ao convite, vieram Sandra Frietha, Luka Magalhães, Lígia Regina e Eder Lima, João Caetano, Alexandre Santo, Seh M. Pereira, Paulinho dhi Andrade, Gilberto Braz, Kita (do Sarau da Maria), o cordelista Costa Senna (chegando de shows no Ceará direto pra CA), mais a dupla Brener e Juliana (e seu trompete).
Da tchurma do Hospício Cultural, chegaram chegando Bruno Azenha, Lucas Afonso, Rafael Carnevalli, Daniele, Cabelo, Tiago, Karoline, Pinga, Rodrigo e Felipe.
E teve ainda Manogon, Akira, Romildo de Souza (e seu violão sempre suingado), Os Kabras de Baquirivú (Ronaldo Ferro, Joaquim Lima, Xavier, Quinho, Pérola Negra, mais a participação especial de Beto Rios), Tião Baia (com a participação especialíssima do Camacho, assinando pela primeira vez a lista de presença na CA), Gildo Passos (sempre o epicentro do carisma), acompanhado de Marcel Acauã, e eu, em algum momento que o som falhou, embromando nuns poemas dispersos, para entreter a platéia.
Não bastasse a alegria da celebração, o cantor, compositor, arranjador e produtor Lucas Cabral (parceiro do Xavier em outros projetos na Casa de Farinha), fez um belíssimo trabalho de captação de áudio para que o registro vire um cd, a ser divulgado em breve.
O Sarau também rende loas, palmas e outros xavecos aos Big Charlie, Carlos Scalla, Luka Magalhães, Célia Ribeiro, Xavier e tantos outros que nos eternizam com suas inseparáveis câmeras, que tudo veem e registram. Também endereçamos beijos, abraços e afagos à Célia e Clarice Yamasaki, além do grande e onipresente Henrique Gabriel, autêntico estafe 5 estrelas.
Quer dizer, o ano mal começou e podemos deduzir que os primeiros gols já foram feitos. E, em ano de copa do mundo, vamos lutar para que a poesia, a arte, ganhem de goleada. Invictas.

Lucas Kabral, produção de cd do sarau (foto Xavier)
 
Os Kabras de Baquirivu, atração do sarau (foto Ligia Regina)
Pessoal atento ao sarau (foto Luka Magalhães)

Arte de Luka Magalhães  para o 20º sarau da CA

Arte de Manogon  para o 20º sarau da CA