domingo, 29 de setembro de 2013

Casa Amarela recebeu Adriana Rocha e Osvaldo Higa para mais um Blablablá

Higa e Rocha, duas fortalezas no 7º Blablablá


Difícil explicar o que foi o 7º Blábláblá na Casa Amarela, ontem, 28 de setembro. Talvez o tempo, ainda indeciso entre ser primavera ou inverno, talvez eventos demais (para público de menos) acontecendo ao mesmo tempo na região de São Miguel, talvez mesmo porque o debate sobre produção e distribuição no meio artístico e cultural ainda não seja considerado importante para os próprios produtores do lugar, talvez porque a tarefa primária para todos que estão trabalhando nessas fronteiras seja realmente a formação de público, fato é que pouco mais de uma dúzia de resistentes estiveram na Casa Amarela para este encontro.
Sinto dizer, mas quem não foi, perdeu.
Perdeu, antes de tudo, porque não pode ouvir a simpaticíssima Adriana Rocha e suas práticas para o escoamento de suas obras. Perdeu quem não pode prestigiar o lançamento de sua última obra, “V de Vagina – Sexo e Romance”, onde ela dá cor, sabor e aroma aos tons de cinza do mercado. Perdeu quem não pode ganhar o autógrafo da mesma, untado com um sorriso maroto que desamarra qualquer introspecção.
Também perdeu quem não pode perceber a fina ironia da inteligência de um mestre zen brasileiro, Osvaldo Higa. As lições de desprendimento, a coerência entre vida e arte, a busca constante pelo santo graal da arte traduzida em gesto e sensibilidade, fortalecem, corporificam e dão sentido à obra literária e jornalística do autor.
Os dois juntos, mais a participação aditiva da platéia ajudaram tanto na profusão de histórias, argumentos e sugestões, que congestionaram o HD neurônico desse escriba. A inquietação traduziu-se num caudaloso rio de idéias. E este aqui, em alguns momentos, senti-me num redemoinho que espanava todos os lugares-comuns da causa que militamos, a arte, a cultura, a educação, a sustentabilidade do planeta.
Adriana, que tanto escreve para o público infanto-juvenil quanto histórias, digamos, “para o público adulto” (lançou na CA seu último romance, que tem o significativo título “V de Vagina – Sexo e Romance”), respondeu a todas as perguntas “espinhosas” que lhe foram trazidas por conta da obra polêmica. Helenir Marçal, por exemplo, trouxe uma vivacidade única ao inquirir a autora, “quem tinha ensinado quem, se a autora à personagem, ou o contrário”, ao que Adriana confessou, “talvez eu tenha ensinado mais à Lívia (personagem), talvez...” Lendo a obra, fico em dúvida, parece-me que houve uma “troca” igualitária de experiências entre autora e personagem.
Higa – que também trouxe seu último livro, “Sujeito Oculto”, para ser lançado no evento – e igualmente bombardeado por perguntas de todos os lados, respondeu a todas com o mesmo desvelo. Depois de ler inicialmente um trecho de sua obra que remetia à mesma enunciação sexual do “V” de Adriana Rocha, ainda que com uma poeticidade muito peculiar, foi questionado, entre outras coisas, sobre o quanto o jornalismo influencia sua prosa. Confessou que é sabedor que a prática profissional fez com que sua ficção ganhasse tons enxutos e de objetividade natural. Apesar das poucas adjetivações típicas da escrita jornalística, seu trabalho, contudo, não retém o fluxo de signos que determinam uma certa exatidão generosa. Refletem assim um autor em pleno domínio de seu ofício.
Feitas as contas das mais de duas horas de conversa, arrisco dizer que, salvos as especifidades determinantes, Adriana Rocha e Osvaldo Higa apresentam diversas pontas de convergência em seus textos e suas trocas de idéias. Ambos revelam-se simpáticos, sempre bem longe do pedantismo que caracterizam muitos de nossos parceiros de letras. Os dois também primam pela clareza em suas letras. Tanto um como a outra praticam um texto que contempla todos os perfis de público, sem hermetismos desncessários ou exibicionismo semântico, escrevem bem e sem firulas, “apenas isso”. Por fim, em ambos residem a resistência de uma arte que não envelhece, antes se rejuvenesce em enredos bem pensados, tramados e exibidos. Para nosso deleite.
Definitivamente, o Blábláblá de ontem na Casa Amarela mostrou dois frutos maduros da moderna prosa tupiniquim. E quem não esteve lá, não pode fruir dessas e de outras gostosas degustações. A pasta de aliche, por exemplo, um mimo que Higa levou para a Casa, contribuiu também para fechar com chave de ouro mais um encontro de inteligências na zona leste de Sampalândia.

Um brinde na abertura, uma tradição da CA
Todo mundo atento às palavras dos convidados
Mediação de "havaianas"
texto de Escobar Franelas
fotos de Célia Yamasaki e Sueli Kimura

Nenhum comentário:

Postar um comentário