quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Blablablá - Pois as ideias não param




Claudio, Thina e Rafael mandando ver nas ideias (foto Celso Marchini)


Três cabeças diferentes, mil novas ideias para o mundo (foto Celso Marchini)
 O Blábláblá foi pensado para ser um projeto da Casa Amarela – Espaço Cultural que fosse o fomento das provocações, o aguçamento das inquietações e a proposição de idéias. Passados seis meses desde o primeiro, em abril deste ano, o evento vai, aos poucos, firmando-se como uma arena cujo espetáculo é o diálogo entre os diferentes e o gládio de cada um dos contendores é apenas a palavra. Palavras que questionam, refletem e equacionam, que fazem pensar, que lançam para o futuro.
Para o sexto encontro, em 31 de agosto último, foram convidados os “gladiadores” Cláudio Gomes, Rafael Carnevalli e Thina Curtis. E o “coliseu romano” seria a garagem da Casa Amarela, que recebe, a cada evento, um público inteligente, ávido por outras inteligências. Mais uma tarde ricamente ilustrada pelo colorido de idéias, carregada pelos pincéis das trocas de experiências, de memórias de ativismos na educação, cultural e política, e a prática crítica, ácida para alguns, fundamentada para outros. Em pauta, os desencontros e despropósitos da cultura e educação “oficiais” dos dias atuais.
Assim que os três iniciaram suas apresentações, Cláudio Gomes já lançou algumas dinamites que explodiriam o lugar-comum. Lembrando a cada momento que “cultura é um direito” e que, portanto, deve ser “defendida e entendida como tal”, fez uma explanação de como os mecanismos hoje propostos não atingem o cerne da questão. Reafirmando que quando fazemos nossos requerimentos não solicitamos o produto cultural como sendo direito, mas como privilégio, temos aí, segundo ele, um erro estratégico.
Rafael Carnevalli, poeta e ativista cultural, militante do Movimento Aliança da Praça (que organiza um sarau mensal na Praça do Forró, no centro de São Miguel) e também do coletivo Hospício Cultural (que promove diversas ações sociais e culturais na região de São Miguel), apontou outra mazela de nosso tempo. “As escolas são pouco dinâmicas, os professores estão presos a um currículo muito engessado”, constatou.
Ao que Cláudio Gomes contrapôs, “se a gente tivesse menos supervisores de ensino na rede pública e mais professores de fanfarras, o ensino estaria melhor”, sintetizou.
Thina Curtis, poeta, organizadora de um dos maiores eventos dedicados ao fanzine no Brasil, a Fanzinada, e arte-educadora trabalhando com jovens também da Fundação Casa, fez um apanhado geral de sua militância e apontou outros caminhos. “Eu acredito muito na cultural local”, citou, complementando a seguir, “quando a gente fala de cultura e arte, a gente ainda vê pelo olhar elitista, a gente não se vê como artista”. E citou, como exemplo, um fato de sua vida, “quando eu era adolescente, meu sonho era ir na Casa das Rosas (nota: Av. Paulista), ouvir poesias, mas eu tinha vergonha”.
Inquirida a respeito de sua atuação na Fundação Casa, falou “quando a gente chega (na Fundação), dizem, ´este matou´, ´este roubou´, mas quando vamos investigar, o problema é bem mais complexo, tem criança que foi estuprada pelo pai”. Perguntada sobre o que a sociedade faz, afirmou “ela não faz”. E, reiterando a afirmação, lembrou que “fui líder comunitária, e vou te falar, é punk! Todo problema é você que tem que resolver”. Preconizando que “é a favor de qualquer coisa que não tenha muro”, Thina discorreu abertamente sobre educação, arte, cultura e ativismo jovem.
Também ajudou bastante a participação do público. Aproveitando que Cláudio comentava a afinidade que as letras P, M e A têm no imaginário de São Miguel, lembrou que assim como são as iniciais de Movimento Popular de Arte (MPA), Movimento Aliança da Praça (MAP, codirigido por Carnevalli), Movimento Popular Autonomista (que no fim da década de 1950 insistia que São Miguel deveria adquirir autonomia política em relação à cidade de São Paulo), Luka Magalhães, poeta e dramaturgo, lembrou que a principal praça do bairro, conhecida como Praça do Forró, tem como nome original Praça Padre Aleixo de Monteiro Mafra, portanto, PPAMM.
Quando Carnevalli preconizou que “a gente precisa de uam reforma na educação” e que, como idéia, lançou que “depois de todas as aulas, os alunos poderiam ter aulas recreativas, de rap, funk, e outras coisas que despertem sua atenção”, Eder Lima, artista visual, músico e também professor, pontuou que “essa escola que tem uma estrutura arcaica, engessada, iluminista, positivista, conservadora, ainda assim recebe algumas ações que acabam fazendo a diferença”. Como exemplo, ilustrou a AEL (Academia Estudantil de Letras), projeto de letramento surgido expontaneamente numa escola pública da zona leste e que aos poucos vai crescendo, chegando inclusive à escola na qual ele dá aulas.
Feitas as contas finais, o Blablablá cumpre fidedignamente aquilo que promete: ideias variadas, sortidas, no atacado, algumas aplicáveis, outras nem tanto. Mas idéias, tudo o que precisamos para reforçar nosso protagonismo e nosso ativismo.
Aos poucos estamos avançando. Pois, segundo uma sentença de Carnevalli, “eu, como ativista, penso”. Ou, como disse Cláudio, “sou culpado, sim, por muita gente gostar de poesia”. Ou, pra finalizar, decidir como Thina, “quando as pessoas começam a pensar, as coisas mudam”.
Eu acredito nisso.
Escobar Franelas
(Fotos público: Célia Yamasaki)
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3 comentários:

  1. Cada Blá Blá Blá, um diferente do outro, nada é igual..Que é o mais legal.

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  2. Adorei ver a Thina partricipando e vendo o quanto voces estão fazendo esse trabalho importante para nós

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