Claudio, Thina e Rafael mandando ver nas ideias (foto Celso Marchini) |
Três cabeças diferentes, mil novas ideias para o mundo (foto Celso Marchini) |
O Blábláblá
foi pensado para ser um projeto da Casa Amarela – Espaço Cultural que fosse o
fomento das provocações, o aguçamento das inquietações e a proposição de
idéias. Passados seis meses desde o primeiro, em abril deste ano, o evento vai,
aos poucos, firmando-se como uma arena cujo espetáculo é o diálogo entre os
diferentes e o gládio de cada um dos contendores é apenas a palavra. Palavras
que questionam, refletem e equacionam, que fazem pensar, que lançam para o
futuro.
Para o sexto
encontro, em 31 de agosto último, foram convidados os “gladiadores” Cláudio
Gomes, Rafael Carnevalli e Thina Curtis. E o “coliseu romano” seria a garagem
da Casa Amarela, que recebe, a cada evento, um público inteligente, ávido por
outras inteligências. Mais uma tarde ricamente ilustrada pelo colorido de
idéias, carregada pelos pincéis das trocas de experiências, de memórias de
ativismos na educação, cultural e política, e a prática crítica, ácida para
alguns, fundamentada para outros. Em pauta, os desencontros e despropósitos da
cultura e educação “oficiais” dos dias atuais.
Assim que os
três iniciaram suas apresentações, Cláudio Gomes já lançou algumas dinamites
que explodiriam o lugar-comum. Lembrando a cada momento que “cultura é um
direito” e que, portanto, deve ser “defendida e entendida como tal”, fez uma
explanação de como os mecanismos hoje propostos não atingem o cerne da questão.
Reafirmando que quando fazemos nossos requerimentos não solicitamos o produto
cultural como sendo direito, mas como privilégio, temos aí, segundo ele, um
erro estratégico.
Rafael
Carnevalli, poeta e ativista cultural, militante do Movimento Aliança da Praça
(que organiza um sarau mensal na Praça do Forró, no centro de São Miguel) e
também do coletivo Hospício Cultural (que promove diversas ações sociais e
culturais na região de São Miguel), apontou outra mazela de nosso tempo. “As
escolas são pouco dinâmicas, os professores estão presos a um currículo muito
engessado”, constatou.
Ao que
Cláudio Gomes contrapôs, “se a gente tivesse menos supervisores de ensino na
rede pública e mais professores de fanfarras, o ensino estaria melhor”,
sintetizou.
Thina Curtis,
poeta, organizadora de um dos maiores eventos dedicados ao fanzine no Brasil, a
Fanzinada, e arte-educadora trabalhando com jovens também da Fundação Casa, fez
um apanhado geral de sua militância e apontou outros caminhos. “Eu acredito
muito na cultural local”, citou, complementando a seguir, “quando a gente fala
de cultura e arte, a gente ainda vê
pelo olhar elitista, a gente não se vê
como artista”. E citou, como exemplo, um fato de sua vida, “quando eu era
adolescente, meu sonho era ir na Casa das Rosas (nota: Av. Paulista),
ouvir poesias, mas eu tinha vergonha”.
Inquirida a
respeito de sua atuação na Fundação Casa, falou “quando a gente chega (na Fundação), dizem, ´este matou´, ´este
roubou´, mas quando vamos investigar, o problema é bem mais complexo, tem
criança que foi estuprada pelo pai”. Perguntada sobre o que a sociedade faz,
afirmou “ela não faz”. E, reiterando a afirmação, lembrou que “fui líder
comunitária, e vou te falar, é punk! Todo problema é você que tem que
resolver”. Preconizando que “é a favor de qualquer coisa que não tenha muro”,
Thina discorreu abertamente sobre educação, arte, cultura e ativismo jovem.
Também ajudou
bastante a participação do público. Aproveitando que Cláudio comentava a
afinidade que as letras P, M e A têm no imaginário de São Miguel, lembrou que
assim como são as iniciais de Movimento Popular de Arte (MPA), Movimento
Aliança da Praça (MAP, codirigido por Carnevalli), Movimento Popular
Autonomista (que no fim da década de 1950 insistia que São Miguel deveria
adquirir autonomia política em relação à cidade de São Paulo), Luka Magalhães,
poeta e dramaturgo, lembrou que a principal praça do bairro, conhecida como
Praça do Forró, tem como nome original Praça Padre Aleixo de Monteiro Mafra,
portanto, PPAMM.
Quando
Carnevalli preconizou que “a gente precisa de uam reforma na educação” e que,
como idéia, lançou que “depois de todas as aulas, os alunos poderiam ter aulas
recreativas, de rap, funk, e outras coisas que despertem sua atenção”, Eder
Lima, artista visual, músico e também professor, pontuou que “essa escola que
tem uma estrutura arcaica, engessada, iluminista, positivista, conservadora,
ainda assim recebe algumas ações que acabam fazendo a diferença”. Como exemplo,
ilustrou a AEL (Academia Estudantil de Letras), projeto de letramento surgido
expontaneamente numa escola pública da zona leste e que aos poucos vai
crescendo, chegando inclusive à escola na qual ele dá aulas.
Feitas as
contas finais, o Blablablá cumpre fidedignamente aquilo que promete: ideias variadas,
sortidas, no atacado, algumas aplicáveis, outras nem tanto. Mas idéias, tudo o
que precisamos para reforçar nosso protagonismo e nosso ativismo.
Aos poucos
estamos avançando. Pois, segundo uma sentença de Carnevalli, “eu, como
ativista, penso”. Ou, como disse Cláudio, “sou culpado, sim, por muita gente
gostar de poesia”. Ou, pra finalizar, decidir como Thina, “quando as pessoas
começam a pensar, as coisas mudam”.
Eu acredito
nisso.
Cada Blá Blá Blá, um diferente do outro, nada é igual..Que é o mais legal.
ResponderExcluirAmei a ideia e os comentarios
ResponderExcluirAdorei ver a Thina partricipando e vendo o quanto voces estão fazendo esse trabalho importante para nós
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