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Texto de Escobar Franelas: "7ª Carta Crônica"
Era uma sexta...
Às vezes fico me perguntando porque nas fatalidades a
gente fica impedido de dar um tchau, um beijo, um abraço, ao menos um aperto de
mão. Amanhã fará quatro anos. 4 anos... e eu só pude fazer um gesto qualquer
com as mãos, bem depois, na campa fria sob a névoa fina; só isso... a
materialidade carne não conversa com o corpo diplomático evanescente.
Houve um domingo...
Ainda bem que antes eu passara com o Zuza lá, e pudemos
rolar aquele dedinho de prosa que gostávamos muito. Eu não sabia, você não
sabia, ninguém sabia, mas foi ali que nos despedimos sem nos abraçar, foi
naquelas poucas horas que fizemos juras de amor sem saber, e foi por causa
daquele dia, naquelas horas (oh, como é duro ser objetivo sem ser piegas nessas
horas!...), que descobri que o amava, mais do que eu imaginava, mais do que
você poderia supor. Pois o amor maior só se revela fora de seu tempo presente.
E foi como presente que interpretei esse jogo de dados que "ao
deus-dará", jogamos no tabuleiro da vida.
Na quinta...
O Preto não falou tchau, também não teve essa sorte.
Tampouco a Raquel que, muda, fez lindos versos de amor devoto. Estávamos
dançando a música do cotidiano - como você gostaria que fosse, disso eu sei -
quando a microfonia acusou o fim do baile. Que baile(?)(!) Acabara o tango.
Você se retirara da pista de dança.
Fiquei ali, atabalhoado, parvo, cara no nada, rosto
contrito, sem visão ou audição, sem olfato ou paladar, o tato apenas para
esculpi-lo na sua própria pele fria, e só. Nada tinha a acrescentar, o script
já estava sendo escrito à revelia, e a mim só restava o vapor das horas, os
minutos se (e "me") consumindo, até que se passasse aqueles momentos
e esses anos todos, com uma saudade feroz, que eu - tolo! - achava que seria
abrandada. Que nada! Só aumentou!
Era dia do meu aniversário! Ainda assim, obrigado, pai!
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