XXXIII Sarau da Casa Amarela - Resenha de Gilberto Braz
É show, é gol!
Eram
15h:10 min quando cheguei na Casa Amarela neste domingo de semifinais e
clássicos históricos: o derbi paulista, Corinthians x Palmeiras, que
teria lugar aqui pertinho, em Itaquera; e o não menos tradicional
clássico SanSão a ser disputado nos domínios santistas. Mas enganava-se
quem pensava que haviam duas disputas. Na verdade, as duas disputas eram
três, porque tão logo cheguei, corri
os olhos pela casa e vi que éramos poucos. Alguem comentou sobre a
concorrência desleal da Globo, marcando os jogos para o mesmo horário do
Sarau da Casa Amarela. Dos habituais frequentadores, apenas eu e Luka
Magalhães. Além de nós, Carlos Mahlungo, Odair e Ricardo Peçanha
cuidavam de plugar os instrumentos para iniciar a passagem de som. Não
mais do que 4 lugares estavam ocupados, um deles por Antônio Mioto,
outro por Germano Gonçalves. Da coxia imaginária, Mahlungo abriu a
cortina e espiou pela fresta. Alguem comentou: "é, hoje tem jogo..." Eu
tratei de tranquilizar: daqui a pouco o pessoal começa a chegar e isso
aqui vai encher. E aos poucos o pessoal foi chegando. Como não temos
compromisso com a TV, com publicidade ou com grade de programação, demos
aquela atrasadinha para que os amigos, entre beijos e abraços, pudessem
celebrar a arte do encontro .
O relógio marcava exatamente
16h:14min quando Akira Yamasaki subiu ao palco para abrir o 33º Sarau
da Casa Amarela. Em breves palavras declamou um poema. Primoroso.
Humilde, preparou o clima, e convidou este escriba para anunciar a
primeira das muitas atrações especialíssimas da tarde/noite do domingo
de duplo clássico que teve a acirrada concorrência da Casa Amarela.
Então chamei ao palco Carlos Mahlungo, que veio acompanhado de seu
violão e da percussão maneira e cheia de gingas do Odair. Diante de
olhares e ouvidos atentos, Mahlungo cantou Outros Olhos, e nos brindou
com toda a poesia e musicalidade das Minas Gerais. Borboletou em
seguida, com sua voz melodiosa de seda. E para quem queria saber quanto
estava o jogo, não se fez de rogado, e respondeu com Flores na Porta do
Gol. Mahlungo é show, é gol!, como diz sua música. Então fomos para o
intervalo.
Na volta, o gramado, digo, o palco da Casa Amarela
recebeu dois craques: Manogon Manoel Gonçalves e Germano Gonçalves, o
urbanista concreto. Manogon, escritor, ator, dramaturgo e artista
gráfico, convidado especialíssimo, deu-nos a honra de lançar o seu
livro de poemas, Caminhos Tortos, editado dentro da coleção Exemplos.
Trouxe todo o seu lirismo, em poemas densos e intensos. Em seguida foi a
vez de outro convidado especial da tarde. O urbanista concreto, Germano
Gonçalves, contou-nos parte de sua trajetória, da descoberta da
literatura ao ato de escrever. Da vontade de publicar um livro aos
muitos "nãos", verdadeiros tapas na cara que quase todo artista da
periferia recebe da "mão invisível do mercado". Mas ele prosseguiu, e
nos deliciamos com sua crônica viva; todos rimos, porque a gente costuma
rir da própria desgraça depois que ela passa. Mas a coisa foi ficando
séria, e o Urbanista contou num poema a história de uma criança, um
menino que atirava para tudo quanto é lado, para tudo quanto é alvo: pa!
pa!, pa!. E nos conduziu pela história daquele muleque, que não parou
de atirar nem quando chegou a polícia: pa! pa!, pa! . E emocionou a
todos quando finalmente revelou que o menino atirava pa! pa! palavras...
Até aí, goleada da Casa Amarela sobre a programação fútil do
entretenimento massificante. Mas tinha mais. Tinha muito mais. Palco
livre, microfone aberto, emprestaram o seu talento maravilhosos artistas
da estirpe de Santiago Dias, Mauri de Noronha, que nos agraciou com sua
visita pela primeira vez, seo José Pessoa, encantador, e agora cantor!,
Mario Neves, sempre com grande estilo, Andrea Garcia, a viajante do
Trem, Ricardo Peçanha, músico, cantor, compositor, também estreando,
Edinho Twin e Val Branco, cujo indiscutível talento traz aquele profundo
silêncio para que os acordes de Twin e a declamação perfeita e singular
de Val possam reverberar pela Casa e nos encher os olhos de lágrimas...
Paulinho Dhi Andrade, visceral. Ainda tivemos muitos outros artistas e
para fechar a noite em grande estilo: Sacha Arcanjo, que deu quatro
saideras pra contemplar a todos com suas canções explêndidas.
Foi uma tarde/noite memorável, mais uma vez. Ao final, o Akira e o
Escobar ainda levaram de lambuja a felicidade de saber que o seu
Palmeiras havia eliminado o Coringão da semifinal. Como na música de
Mahlungo: Casa Amarela é Show! É Gooooollll!!!!!. É isso. E em maio tem
mais.
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Gilberto Braz |
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