segunda-feira, 30 de março de 2015

Textos que foram lidos e discutidos na roda literária Inéditos e Inacabados


foto Rosinha Morais


"O julgamento do Óbvio"

as batidas do martelo
cortavam o murmúrio das vozes
era preciso ordem e sensibilidade no tribunal
faz frio em dias de julgamento
pelas frestas das janelas
uma névoa cinzenta invade o plenário
dos lábios do júri
escorria uma saliva de ódio
e das mãos do juiz
o martelo ainda gritava:
"ordem e sensibilidade no tribunal!"
a flor não rompia o chão daquela sala
o asfalto, nem os corações
em dias de julgamento
não há silêncio, somente há náusea
na cadeira do réu
sentava-se o Óbvio
o advogado tentava defendê-lo
os muros do tribunal estavam surdos
Que tempos são estes?

(Daniel GTR)

foto Rosinha Morais


foto Rosinha Morais


SENTENÇA

o tempo veio me visitar hoje
ou ontem, ou amanhã
não sei bem.
o tempo é um jazzman
- exímio saxofonista.


conversamos muito sobre nós:
o que foi
o que poderia ter sido.



o tempo é maestro.
Escobar Franelas

foto Daniel GTR


O carro desviava dos buracos no asfalto. Jorge é um bom motorista, prudência e atenção são características bem acentuadas da sua personalidade, apesar da pouca idade do rapaz. O GPS indicava o caminho, mas não informava nada sobre as condições do mesmo. No som do carro um RAP fazia alusão à política, despertando nele, um sorriso de ironia e uma constatação: – É meu amigo! Há sempre que se fazer algo para melhorar a situação, mas só melhora mesmo em tempo de eleição. Se passa uma maquiagem, pura enganação e ainda somos culpados por não prestar atenção, colocamos qualquer um no comando. Cidadão? Talvez sim, talvez não. Fazemos parte de um circo sem nenhuma direção. Não demorou muito e chegou ao seu destino, uma visita domiciliar a um cliente na intenção de realizar uma venda. Sequer desceu do carro. Ao seu lado parou uma viatura da polícia, armas apontadas para ele: – Ei rapaz, você mora aqui? – Não senhor! – E porque está parado aí? – Vim visitar um cliente. Marcamos uma reunião. – E esse carro, é seu? – É sim senhor. – Está em seu nome? – Não senhor, está no nome do meu pai. – Tudo bem rapaz, mas estamos de olhos abertos... Jorge é um jovem, ouve RAP, raspa a cabeça e cultiva uma barba. (Rosinha Morais)

foto Daniel GTR

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