Livreto do monólogo distribuído no evento |
Era uma noite paulistana quase comum. Uma
sexta qualquer, uma noite qualquer, depois de um expediente comum a todos os
outros dias. Afinal, tudo seguia na mesma. A cidade virou um caos com o quase
inerte trânsito costumeiro. Os ônibus circulando abarrotados, o que diminuía as
chances de uma viagem tranquila, mesmo com a facilidade da faixa exclusiva.
Metrô e trem lotados. Euforia para se preparar para as baladas. Sampa na
correria de sempre. Mas, naquela sexta, 19 de setembro, porém, as coisas eram
um pouco diferentes. No meio do caminho havia uma casa, uma Casa Amarela.
A ordem do dia era um compromisso com a arte,
uma reverência a Dionísio e à magia do fazer teatral. Uma noite dedicada a mais
uma vertente artística dentro da Casa Amarela. Vertente não inédita por lá, é
bom que se diga, pois a Casa Amarela iniciou seus trabalhos por meio de
intervenções cênicas, de pesquisa, oficina e encenação com o Grupo Teatral
Alucinógeno Dramático, o qual segue outros promissores caminhos agora, mas é
lembrado ainda como um dos expoentes culturais na seara artística da região e
com prestígio pelos frequentadores da Casa Amarela.
O evento, batizado temporariamente (ou não,
como diria Caetano) como “Sextas Cênicas”, vinha sendo costurado há algum
tempo, em conversas de boteco entre Akira Yamasaki, Sueli Kimura, Escobar
Franelas, Luka Magalhães e eu, Manogon. Entre bons goles de café (diria
garrafas), biscoitos e viagens mil, decidimos colocar à prova a proposta. Como
pontapé inicial, em busca de um formato adequado à Casa e viável aos visitantes/frequentadores,
diretamente do baú literário de Luka Magalhães, foi marcada a leitura cênica do
monólogo “Ascensão, Apogeu e Queda de um Homem Qualquer”.
Manogon dando os últimos toques na maquiagem |
Pronto para entrar em cena |
Luka Magalhães subiu ao tablado e com mestria
começou a expor a beleza de seu texto. Nas palavras de Escobar, um “texto
denso, irônico, de sublimação”. A interpretação empregada por Luka para a
leitura do monólogo ajudou o público a entrar na história desse homem qualquer.
Dividido em três tempos bem definidos, as agruras e satisfações da personagem
em sua obsessão de Querer, Ter e Perder, uma busca constante de superação das
angústias e sede por vingança por quem o fez sofrer. Mas seria isso mesmo?
Seria essa a sua vontade? Um personagem completo e complexo, o que nos fez
imaginar e desejar uma montagem digna e com tudo a que tem direito, para um
tempo e espaço não distantes.
Emoção na leitura de Luka Magalhães |
Após as apresentações aconteceu, com muita
descontração, um bate-papo sobre o entendimento do público, as percepções sobre
o evento, o desejo que essa iniciativa se repita, ao menos uma vez por mês,
numa sexta pré-determinada e também sobre projetos que envolvam as artes
cênicas.
O que se pode colher do público é que eventos
como esse serão bem-vindos, que a Casa Amarela cumpre com seu papel de fomentar
a efervescência artística, que outros textos podem ser lidos, outras cenas
devem ser exploradas e outros artistas têm de ser convidados a mostrar sua arte
no tablado ou cômodos da Casa Amarela.
Lendo e interpretando o monólogo |
Enfim, ficou (e oxalá sempre fique) um
gostinho de quero mais...
Aguardem e acompanhem!
Enquanto isso, dia 27 de setembro, sábado,
tem mais um BláBláBlá, com outras abordagens sobre o tema Literatura Marginal.
E dia 11 de outubro, domingo, mais uma edição
do Sarau da Casa Amarela.
Compareçam para
prestigiar e levem sua arte.Por Manoel Gonçalves (Manogon)
Esse texto foi originalmente publicado na coluna semanal da Casa Amarela no blog da editora Nova Alexandria.