Olá, caros leitores.
O fim de semana passado, assim como tem sido ultimamente, foi mais uma prova de que os olhos estão voltados ao extremo leste da cidade de São Paulo, como bem diz meu amigo Escobar Franelas, em especial Itaquera e adjacências.
Por conta do primeiro jogo oficial no Estádio Itaquerão, Arena Corinthians, Arena São Paulo, Arena Itaquera, ou seja lá qual for o nome que realmente será dado à nova casa do Timão, tivemos um aporte de jornalistas, torcedores e curiosos em terras nossas. Alguns ali estiveram pela primeira vez. Nesse caso, independente de você ser corinthiano ou não, vale pensar na região não só como fonte de notícia das páginas policiais ou como matéria de uma terra distante e precária. É bem verdade que o estádio em si não trouxe modernidade, mais infraestrutura para o bairro (além de túneis e viadutos), mais investimentos em saúde, educação e moradia. Continuamos com as mesmas dificuldades para atravessar a cidade para trabalhar e com os velhos problemas de outrora. Há muito a melhorar, mas essa exposição é um auxílio para que a população passe a cobrar o melhor uso de seus impostos e o valor de seu voto.
Porém, minha abordagem aqui não é meramente panfletária. É preciso enaltecer também a contribuição cultural da região nesse fim de semana. Cito aqui dois eventos que partilhei: a participação do Sesc Itaquera na 10ª Virada Cultural da Cidade de São Paulo e o 23º Sarau da Casa Amarela de São Miguel Paulista.
A programação do Sesc Itaquera, local de ampla área verde e com diversas atividades de cultura e lazer, começou na noite fria de sábado com um show eletrizante de Edvaldo Santana e banda, que esquentou o público com ritmos que vão de samba e xote a reggae e blues. Edvaldo é egresso de São Miguel Paulista, ex-integrante do grupo Matéria Prima e um dos muitos artistas que formavam o MPA (Movimento Popular de Arte); é uma figura carismática e extremamente conhecida no meio artístico, tendo feito parceria com grandes nomes como Tom Zé, Paulo Leminski, Ademir Assunção, Haroldo de Campos, Arnaldo Antunes, Lenine, Além dos bons e velhos parceiros de MPA. Na sequência da programação do Sesc, Zé Geraldo cantando com sua filha Nô Stopa e participação especial de Chico Lobo, violeiro, cantor e compositor mineiro. Zé Geraldo, por si só, já contagia a massa e faz com que todos cantem seus sucessos, tanto os antigos, porém, com temas ainda atuais, quanto os mais recentes. Nô Stopa cativa pela bela voz, a presença de palco e o carisma. O convidado mineiro Chico Lobo deu um show à parte, extraindo belíssimos acordes de sua viola de 10 cordas. Essa foi a primeira etapa, pois já sabia que viria muito mais no domingo.
Sarau contagiante tem de tudo um pouco, não é mesmo? O 23º Sarau da Casa Amarela de São Miguel foi assim. Desde o início até o fim, desfilando o talento de seus artistas, uma paleta multicor, com texturas e nuances para compor o belo quadro eclético que tão bem representa nossa diversidade cultural, um a um, em grupo ou sozinhos, assumiam a batuta e comandavam o espetáculo naquele palco, que apesar de aparentemente pequeno, se agiganta com a presença do artista. O sarau tinha como pontos centrais o lançamento do livreto de Carlos Rodrigues (Big Charlie), Cavalos no Peito, já comentado aqui por João Caetano do Nascimento; a promoção, por meio de um “segundo” lançamento, do livro de Escobar Franelas, Itaquera: uma breve introdução; e o convidado igualmente especial, Adilson Aragão e Banda, apresentando músicas da Ousados e Seminovos e de outros projetos dos músicos. Adilson relembrou seu tempo de banda de formatura e barzinho, onde tocava todos os gêneros e outros “causos” mais pitorescos. Brindou a todos com músicas que iam de MPB ao rock clássico e blues, fazendo a abertura e o encerramento do evento.
Por aquele cantinho sagrado, com microfone aberto e equipamento a postos, também passaram Big Charlie, Luka Magalhães, Manogon, João Caetano do Nascimento, Ligia Regina e Eder Lima, Arnaldo Bispo, Euflávio, Gilberto Braz, Seh M. Pereira (que trouxe beleza aos olhos e ouvidos com um quadro e poesias de Neuza Ladeira, artista plástica e poeta mineira), Rosinha Morais, Inês Santos (recitando poemas seus e da poeta capixaba Cris de Souza), Punky Além da Lenda, Sacha Arcanjo, Romildo de Souza, Ceciro Cordeiro, Oswaldo Tiveron e Akira Yamasaki.
Por esses motivos, termino esse post com a sensação de que as coisas no extremo leste tendem a melhorar, se não no aspecto estrutural e “desenvolvimentista”, como diria Odorico, ao menos em cultura e lazer. Não se trata de distração para aliviar e sim de cultura para formar, informar e transformar. E que venha dia 30 de maio, com o Sarau da Casa do Chefe, no centro de Itaquera (ao lado do Terminal e do pontilhão da radial), a partir das 19h. E dia 31 tem o BláBláBlá na Casa Amarela, a partir das 16h, com a temática Futebol e Arte, sob a batuta de Escobar Franelas.
* Texto originalmente publicado dia 20/05/2014 na coluna da Zona Leste do Blog da Editora Nova Alexandria, a convite do ilustre Jeosafá Fernandez Gonçalves.
Manoel Gonçalves (Manogon)
Designer gráfico, ator e poeta. Escreveu por dois anos e meio para o blog e site Desabafo de Mãe, como pai convidado, para expor seu ponto de vista sobre a difícil e prazerosa arte de criar e educar as filhas. Participou também de outros blogs literários. Frequenta alguns saraus na grande Sampa. Mantém o blog Coisas de Manogon.
A Casa Amarela – Espaço Cultural, localizada em São Miguel Paulista (SP), iniciou suas atividades em Março de 2011 e foi pensada para, em todos seus ambientes, respirar a criação humana e seus desdobramentos onde música, teatro, literatura, cinema, artes visuais, filosofia, história ou simplesmente a conversa entre seus visitantes possa ser aconchegante e convidativa para novas descobertas.
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Bem vindo Manogon :)
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