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Adilson Aragão: humor a serviço da boa música (foto: EF) |
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Big Charlie: poesia lírica, densa e debochada em "Cavalos no Peito" (foto: EF) |
Mais de meia-noite, tinha chovido à tarde, uma brisa gostosa soprava em nossos
rostos e um aroma de ar úmido, terra molhada, subia até os narizes. Eu e Raquel
voltávamos do Terminal Rodoviário do Tietê. Tínhamos ido encontrar – apesar do
cansaço extremo – a Raíra Moraes, que tinha baixado na Sampalândia para um
bate-volta durante a Virada Cultural. Como não conseguimos sincronizar um
encontro decente, fomos dar um abraço no momento em que ele embarcava de volta
para Beagá. Felizes, contemplávamos uma lua minguante que prenunciava uma
segunda-feira tranqüila. Apesar de muitos carros na Rodovia Ayrton Senna e
Jacu-Pêssego, um trânsito tranqüilo permitia-nos que ouvíssemos com prazer
aveludado “Belém. O Azul e o Raro”, cd que traz a poesia caudalosa de João
Jesus Paes Loureiro, alguns musicados por Salomão Habib, um mimo da Raíra pra
gente.
Em alguns momentos balbuciávamos palavras. Estávamos enlevados,
embriagados pela tarde auspiciosa que tínhamos passado em boa
companhia, durante o Sarau da Casa Amarela.
Capitaneado pelo infatigável Akira Yamasaki, e com o suporte luxoso de
Sueli Kimura, Celinha Yamasaki, Eder Lima, Ligia Regina e Clarice Yamasaki, o
sarau foi um desfile de pratos finos para nossos ouvidos e olhos agradecidos.
Pelo palco da CA passaram naquela tarde e noite, Adilson Aragão e sua banda
Ousados e Seminovos, Big Charlie, Luka Magalhães, Manogon, João Caetano do
Nascimento, Lígia Regina e Éder Lima, Arnaldo Bispo, Euflávio, Gilberto Braz,
Seh M. Pereira (exibindo em primeiríssima mão um quadro que ganhou da artista
mineira Neuza Ladeira e recitando um poema da mesma), Rosinha Morais (debutando
no espaço com belos poemas), Inês Santos (recitando poemas seus e da poeta
capixaba Cris de Souza), Punky Além da Lenda (exibindo seu humor sempre
cortante e um certo dote violonístico), Sacha Arcanjo (embevecendo o público
com uma canja “democrática” de seus maiores sucessos – eu, aliás, escolhi “Boca
Aberta”, uma da músicas mais líricas e pungentes do enorme repertório dele e
Raberuan), eu, Romildo de Souza, Ceciro Cordeiro, Oswaldo Tiveron (cantando o
“Pai Nosso” à capela) e o mestre de
cerimônias Akira Yamasaki.
Vale lembrar que o evento era dedicado à obra do risonho Adilson Aragão, cantador
de larga data que trouxe sua mini big band, Ousados e Seminovos, preenchendo o diminuto palco com músicas que contemplam gêneros como o rock, a
bossa nova e o samba, entre outros. Biscoito fino para a plateia. E São Pedro
gostou tanto do que estava acontecendo ali que brindou a Sampalândia todinha
com a beleza de suas águas, dando um agradinho de pedras de gelo como brinde.
Antes, a Casa Amarela lançou oficialmente “Cavalos no Peito”, obra
poética vertiginosa do Carlos Alberto Rodrigues, o escrachado videomaker "oficial" do espaço,
popularmente conhecido como Big Charlie. A poesia do Big é big em todos os
aspectos, conforme já relatei na apresentação do libreto. A obra foi criada e
conceituada por um conselho editorial criado pelas mente incansável e inspirada de Akira, no qual ele me incluiu junto com Sueli Kimura, Luka Magalhães, João Caetano do
Nascimento e Manogon. É a primeira incursão da CA pelo caminho editorial
através do selo recém-criado, o Casa Amarela São Miguel Paulista Edições. Breve
outras virão à luz.
No entrecho entre a apresentação de Big Charlie e o show de Aragão e
banda, convidado por Akira, pude discorrer um pouco sobre o meu trabalho mais
recente, “Itaquera – Uma Breve Introdução” (Editora Kazuá), um best-seller doméstico que está me dando
muitas alegrias e fazendo com que durma menos que as costumeiras seis horas por
noite.
Num fim de semana atípico, com Virada Cultural em Sampa, inauguração da
Arena do Corinthians em Itaquera, uma chuva providencial e tanta gente bonita e
amiga pra se beijar e abraçar, fica a dúvida se a poesia não estará
extrapolando nossos gestos. Fico sempre com a sensação de que a arte mais improvável
made in Casa Amarela seja o cultivo
de amigos, nesse jardim tão simples que tudo e todos, juntos e misturados,
ajudam a semear, colher e distribuir.
O que é fato, porém, é que escrevo essas linhas nessa outonal terça pela
manhã, mas ainda profundamente tocado pelas lembranças de um domingo que não
termina, aqui em minha memória.
(Escobar Franelas)
Terei o prazer em frequentar a Casa Amarela, e senão compartilhar diretamente dos assuntos em si, ao menos ser espectador atento.
ResponderExcluirObrigado especial aos amigos Akira poeta, e Escobar escritor, pelo convite.
Espaços assim é que devem ser frequentados por mais moradores da região, conteúdos agregadores, não só para a nossa cultura, mas também pela convivência social, e "ver mais a essência" dos seres humanos, visto que o mundo está numa transição muito grande, e infelizmente, muitas pessoas estão sofrendo com a "inversão dos valores".