terça-feira, 20 de maio de 2014

Como foi a virada cultural, quer dizer, o sarau da Casa Amarela

Adilson Aragão: humor a serviço da boa música (foto: EF)
Big Charlie: poesia lírica, densa e debochada em "Cavalos no Peito" (foto: EF)



Mais de meia-noite, tinha chovido à tarde, uma brisa gostosa soprava em nossos rostos e um aroma de ar úmido, terra molhada, subia até os narizes. Eu e Raquel voltávamos do Terminal Rodoviário do Tietê. Tínhamos ido encontrar – apesar do cansaço extremo – a Raíra Moraes, que tinha baixado na Sampalândia para um bate-volta durante a Virada Cultural. Como não conseguimos sincronizar um encontro decente, fomos dar um abraço no momento em que ele embarcava de volta para Beagá. Felizes, contemplávamos uma lua minguante que prenunciava uma segunda-feira tranqüila. Apesar de muitos carros na Rodovia Ayrton Senna e Jacu-Pêssego, um trânsito tranqüilo permitia-nos que ouvíssemos com prazer aveludado “Belém. O Azul e o Raro”, cd que traz a poesia caudalosa de João Jesus Paes Loureiro, alguns musicados por Salomão Habib, um mimo da Raíra pra gente.
Em alguns momentos balbuciávamos palavras. Estávamos enlevados, embriagados pela tarde auspiciosa que tínhamos passado em boa companhia, durante o Sarau da Casa Amarela.
Capitaneado pelo infatigável Akira Yamasaki, e com o suporte luxoso de Sueli Kimura, Celinha Yamasaki, Eder Lima, Ligia Regina e Clarice Yamasaki, o sarau foi um desfile de pratos finos para nossos ouvidos e olhos agradecidos. Pelo palco da CA passaram naquela tarde e noite, Adilson Aragão e sua banda Ousados e Seminovos, Big Charlie, Luka Magalhães, Manogon, João Caetano do Nascimento, Lígia Regina e Éder Lima, Arnaldo Bispo, Euflávio, Gilberto Braz, Seh M. Pereira (exibindo em primeiríssima mão um quadro que ganhou da artista mineira Neuza Ladeira e recitando um poema da mesma), Rosinha Morais (debutando no espaço com belos poemas), Inês Santos (recitando poemas seus e da poeta capixaba Cris de Souza), Punky Além da Lenda (exibindo seu humor sempre cortante e um certo dote violonístico), Sacha Arcanjo (embevecendo o público com uma canja “democrática” de seus maiores sucessos – eu, aliás, escolhi “Boca Aberta”, uma da músicas mais líricas e pungentes do enorme repertório dele e Raberuan), eu, Romildo de Souza, Ceciro Cordeiro, Oswaldo Tiveron (cantando o “Pai Nosso” à capela) e o mestre de cerimônias Akira Yamasaki.
Vale lembrar que o evento era dedicado à obra do risonho Adilson Aragão, cantador de larga data que trouxe sua mini big band, Ousados e Seminovos, preenchendo o diminuto palco com músicas que contemplam gêneros como o rock, a bossa nova e o samba, entre outros. Biscoito fino para a plateia. E São Pedro gostou tanto do que estava acontecendo ali que brindou a Sampalândia todinha com a beleza de suas águas, dando um agradinho de pedras de gelo como brinde.
Antes, a Casa Amarela lançou oficialmente “Cavalos no Peito”, obra poética vertiginosa do Carlos Alberto Rodrigues, o escrachado videomaker "oficial" do espaço, popularmente conhecido como Big Charlie. A poesia do Big é big em todos os aspectos, conforme já relatei na apresentação do libreto. A obra foi criada e conceituada por um conselho editorial criado pelas mente incansável e inspirada de Akira, no qual ele me incluiu junto com Sueli Kimura, Luka Magalhães, João Caetano do Nascimento e Manogon. É a primeira incursão da CA pelo caminho editorial através do selo recém-criado, o Casa Amarela São Miguel Paulista Edições. Breve outras virão à luz.
No entrecho entre a apresentação de Big Charlie e o show de Aragão e banda, convidado por Akira, pude discorrer um pouco sobre o meu trabalho mais recente, “Itaquera – Uma Breve Introdução” (Editora Kazuá), um best-seller doméstico que está me dando muitas alegrias e fazendo com que durma menos que as costumeiras seis horas por noite.
Num fim de semana atípico, com Virada Cultural em Sampa, inauguração da Arena do Corinthians em Itaquera, uma chuva providencial e tanta gente bonita e amiga pra se beijar e abraçar, fica a dúvida se a poesia não estará extrapolando nossos gestos. Fico sempre com a sensação de que a arte mais improvável made in Casa Amarela seja o cultivo de amigos, nesse jardim tão simples que tudo e todos, juntos e misturados, ajudam a semear, colher e distribuir.
O que é fato, porém, é que escrevo essas linhas nessa outonal terça pela manhã, mas ainda profundamente tocado pelas lembranças de um domingo que não termina, aqui em minha memória.
(Escobar Franelas)
CA: espaço para todos os cantos (foto: Raquel Ramos)

Lígia e Eder: fina flor da musicopoesia (foto: Raquel Ramos)

Seh trazendo Neuza Ladeira ao quadrado (foto: EF)

Rosinha Morais debutando no palco da CA (foto: EF)

Inês Santos debutando no palco da CA (foto: EF)

Punky: cultura, história, arte (foto: EF)

Euflávio: outro debutante? (foto: EF)

Sarau da CA: não para, não para, não para (foto: EF)

Sacha e Akira: foto que dispensa legendas (Raquel Ramos)

Tiveron: presente para o sarau (foto: EF)
Do sarau da CA até a rodoviária, 25 km só pra abraçar Raíra (foto: Raquel Ramos)

CA em  movimento (foto: arquivo S. Kimura/A. Yamasaki)
Retrato "oficial" pós-sarau (foto: arquivo S. Kimura/A. Yamasaki)


Um comentário:

  1. Terei o prazer em frequentar a Casa Amarela, e senão compartilhar diretamente dos assuntos em si, ao menos ser espectador atento.
    Obrigado especial aos amigos Akira poeta, e Escobar escritor, pelo convite.
    Espaços assim é que devem ser frequentados por mais moradores da região, conteúdos agregadores, não só para a nossa cultura, mas também pela convivência social, e "ver mais a essência" dos seres humanos, visto que o mundo está numa transição muito grande, e infelizmente, muitas pessoas estão sofrendo com a "inversão dos valores".

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