Arte de Manogon |
Akira e Vlado: mestre e mestre (foto: arquivo pessoal Akira Yamasaki) |
Uma crônica
amarela
Pensei em
iniciar esse texto falando bem do Akira, da Casa Amarela ou do Vlado Lima.
Talvez do grupo Ururaí ou um dos convidados do Sarau de abril da Casa Amarela.
Pensei em escrever lembrando que não pude participar, pois estava ocupado com
as questões de produção do cd do mesmo sarau, que está em fase de produção.
Pensei em mil justificativas ou conjeturas, o que dá na mesma: vou acabar
falando do que não vi, apenas ouvi. Intuo que este texto vai sair melhor (ou
pior, como queiram!) do que tentei. Bem, vamos lá!
Segundo o
dicionário virtual Priberam (http://www.priberam.pt/dlpo/sarau),
sarau é um substantivo masculino e
significa “festa .noturna em que há dança, música, canto, etc”. Só
isso? Não pode ser. O dicionário, que tanto tem me ajudado nessas décadas todas
com minhas práticas, ainda assim às vezes torna-se frio e insensível ao sangue
que forra minhas veias por dentro. Se alguém quiser adicionar um pouco mais de
tempero, de alma, de experiência viva nessas linhas dicionáricas, que seja um
ser menos “quadrado”, mais chegado a uns bons goles, ou algo que tire seus pés
do chão bruto. Que, antes de escrever qualquer linha a partir do “pai
dos burros”, que passe um domingo na Casa Amarela – Espaço Cultural. Depois,
sim, pode-se meter à besta em
escrever. E se escrever mal, estará perdoado, terá sido por
conta dos excesso dominicais naquele templo onde se celebra a deusa Poesia.
Foi lá que no
domingo último pude conhecer a obra sarcástica e carregada nas tintas dos
pecadilhos (primo0irmão do trocadilho), do cantor, poeta, apresentador e mestre
de cerimônia (sem cerimônias) Vlado Lima.
Ele,
acompanhado de Edu Tiba (trompete), fez que fez, inventou, riu, cantou,
declamou. Apropriou, mentiu, trovejou. Riu, provocou, serenou. Fez mais, diz
que compôs, fez que fez, até me encoxou. Mas depois de fazer todo mundo rir à
beça com o humor, o lirismo e a ironia fina, cedeu lugar para as aves canoras
de São Miguel, de Baquirivu: o grupo Ururaí (Ojana Gouveia, Ademar, Celina
Sales, Mauro Paes, Érika Porto, Cida Camargo, Janete Amaral), é justo dizer,
seqüestrou todos os meus sentidos, todos os sentidos de todos.
Deixou-nos atônitos,
sem chão para pouso. E se posso viajar nas idéias sem medo de ser e fazer-se feliz,
afirmo que nesses anos todos de residência na Casa Amarela, ouvir Ururaí foi
uma das experiências sensoriais mais avassaladoras que tive. Um primor para os
ouvidos, um espetáculo para a alma. Transcendente.
Após essa elevação
dantesca ao paraíso, eis que somos tomados pelos braços pelo leme seguro do
mestre Akira e recebemos mais lufadas poéticas e musicais de Terê Cordeiro, Ojana
Gouveia, Yuri Cortez, João Caetano, Paulinho dhi Andrade, Alexandre Santo, Manogon,
Ligia Regina e Eder Lima, Sandra Frietha, Luiz Flávio, Cida Camargo e Ademar,
Luka Magalhães, Celina Sales, Zulu de Arrebatá, Santiago Dias, Inácio Fitas,
Guilherme Maurelli, Cicio Bonneges, Ricardo Soares, Carlos Bacelar, Ronaldo
Ferro mais trio (Loucas Moura, no violão, Gabriel Moura, no carron e Gabriel
Tavares no baixo), Seh M. Pereira e Paulo Gonçalves.
E se Seh
trouxe lá das “Minas Geraes” a arca do tesouro abarrotada com o ouro da poeta
Adriane Garcia, Fábulas Pra Adulto Perder o Sono
(ganhador do Prêmio Paraná de
Literatura-2013, categoria Poesia), e se Vlado relançava Pop Para-Choque (vendeu a dúzia de exemplares que trouxe logo
na primeira meia-hora de evento), e se tudo
isso que relato foi só de orelhada, ocupado que estava lá no fundão, então,
cuidemos, louvemos, oremos, rezemos pelos nossos ouvidos e todos os outros órgãos
de sentido. Pra que continuemos a ser presenteados com a graça da boa
companhia, boa e inspirada companhia.
Escobar Franelas
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