segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Blablablá na Casa Amarela: Éder Lima e Punky Além da Lenda discutem arte e educação

Eder Lima, Punky Além da Lenda e Escobar Franelas (foto Lígia Regina)


A 8ª edição do Blábláblá, roda mensal de debates na Casa Amarela – Espaço Cultural, em São Miguel, foi uma análise arguta das questões concernentes à Educação. Tendo como convidados o grafiteiro e arte-educador Punky Além da Lenda (Itaim Paulista) e o professor, músico e artista visual Éder Lima, de Guarulhos (a outra convidada, Fabi Menassi, não pode comparecer por questões de agenda), o encontro propiciou para os participantes um agradável relato de experiências com a educação e uma rica discussão sobre possibilidades que podem ser exploradas no diálogo entre educação e arte. Incrível, mas pela primeira vez o tema foi trabalho sem os costumeiros desvios para outros assuntos. Estaremos nós aprendendo a cumprir as pautas? Ou o assunto é tão complexo assim que exigiu concentração total? Estará o mediador aqui aprendendo a conduzir a conversa? Ou terá sido uma singela combinação de todas essas coisas? Dúvidas que o tempo talvez responda.
Ao ser inquirido, logo de início, sobre a possibilidade de se desvincular arte da educação, ou o seu contrário, Eder aproveita e faz uma profunda explanação sobre a história da Educação, desde os seus primórdios, na sociedade grega. Uma aula magna, que percorre a história do pensamento humano desde os pré-socráticos até o existencialismo do século XX. E ainda avança até os tempos atuais. “Em 2007, foi adotada uma mudança curricular na escola formal a partir de um filósofo, Deleuze, que trata dos assuntos a partir das diferenças”, afirma. E arremata “a visão que o Estado teve foi de chamar os pensadores para dar um caráter rizomático para os livros adotados”.
Punky, abordado sobre sua história de vida, entra ´de sola´, “tudo o que aprendi foi por aí. Eu ficava ´caçando´ pessoas que poderiam me ensinar alguma coisa”. Autodidata, mostra-se total, também recorre à construções filosóficas elaboradas: “A maior parte do trabalho no mundo é para eliminar um certo tipo de trabalho”, afirma, enunciando a seguir que “a burrice é derivada da preguiça de pensar”. Polêmico, direto e reto, sem medo de expor idéias ou histórias, cita exemplos de sua atuação no campo da arte-educação: “(um dia) a professora veio e reclamou que uma criança não ´tinha jeito´ e eu afirmei ´quem não tem jeito é a senhora´!”. Éder reitera suas palavras: “quando a gente entra na escola, lá é o microcosmo do mundo”. Sinaliza, contudo, um paradigma estabelecido, ao lembrar que “o professor também se tornou uma classe enquanto trabalhador, mas perdeu a noção de que o trabalho de educador tem outros valores”.
Há um certo delírio poético no ar. Uma vontade de aproveitar ao máximo as possibilidades de um momento único, quando as idéias entram em ebulição. O público presente aproveita e participa avidamente. Sueli Kimura, uma das administradoras da Casa Amarela, questiona qual é o papel do professor hoje, ao que Éder sinaliza com uma máxima que deve – ou, ao menos, deveria – nortear o trabalho daquele que trabalha com Educação:” o professor não é aquele que ensina mas aquele que ´cria´ problemas”, no sentido de não eliminar a discussão dialética no seio da sociedade. “Até mesmo porque o racionalismo imperante não vai dar conta de todas as questões”, finaliza.
Alexandre Santo, outro ouvinte participante, questiona sobre as terminologias ´mestres´ e ´aprendizes´, muito utilizadas no meio pedagógico. Éder rebate, “não gosto dessa hierarquização”. Punky emenda com outro exemplo: “já temos a cultura popular, no entanto, importamos palavras que não necessitamos: ´folk´ e ´lore´. Não há necessidade de nada disso”.
Helenir Marçal, mais uma das convidadas na platéia, pergunta “como individualizar o conhecimento se numa sala às vezes temos 40, 45 alunos?” Éder dá uma pista: “nesses casos, eu divido a sala em grupos, para facilitar a intermediação”. Aproveita outra questão suscitada por Sandra Frietha, poeta presente ao encontro, sobre a finitude do conhecimento esbarrando na grade curricular, e enuncia: “o modelo iluminista surgiu a partir da Reforma protestante. A escola hoje é laica, mas foi nascida dentro da Igreja reformada”. Neste momento é Punky quem o complementa: “tudo o que é área da atividade humana tá acontecendo por aí. Igual à Educação”.
As idéias fervilham e permitem uma profunda e respeitosa troca de saberes. Ao que o cético e concentrado Eder Lima preconiza, Punky apresenta o empirismo da ação. Quando este último dá as cartas, algumas com espírito vividamente anarquista, Éder busca na História, na Filosofia um refinamento teórico. Em outros momentos, acontece justmante o contrário. Éder nos traz a práxis, “o século XX seria o ´século do conhecimento´, mas foi o século das guerras e revoluções”. Ao que Punky, revelando-se também um afiado pensador anarquista, define “meu pai era índio, nunca me bateu;minha mãe era espanhola, ela me ´descia´ uma surra por dia”. Meios de expressão, segundo ele, de filosofias de vida adotadas culturalmente e que se justapõem na própria contradição, que é a vida que nos move.
Olho o relógio, o Blablablá chega a quase três horas ininterruptas de duração e as pessoas insistem em dialogar, questionar, inquirir, propor. Dá dó fechar o bate-papo mas prometemos (e nos comprometemos) a voltar no mês que vem, reencontrar o pessoal, e continuar na busca de caminhos para a construção de conhecimento soberano.
Acreditamos nisso.
Saio da Casa Amarela com Zulu (velho parceiro), sentido Casa de Farinha, para outro evento. No meio do caminho, encontro o velho anarquista em sua bike, no meio da noite escura, no corredor sentido Itaim Paulista. Passo por ele, que não me vê. Continuo trocando idéias com Zulu, mas dentro do carro reflito, “tá ali um cara cuja vida é a prática”. Acredito nele.
Escobar Franelas
Arte: Manogon
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terça-feira, 22 de outubro de 2013

18º Sarau da Casa Amarela


sarau da casa amarela recebe o
sarau literatura nossa de suzano

já faz alguns anos que eu ouvia falar muito no poeta
sacolinha mas ainda não tinha tido a oportunidade de
conhecê-lo pessoalmente apesar de até termos estado
juntos algumas vezes no mesmo evento e espaço mas
separados por alguns minutos de diferença, ou seja,
quando eu chegava ele já tinha saído e vice-versa, e
eu até ficava imaginando como seria sua aparência,
se branco, se negro, se jovem ou se velho e, por conta
disso, com o passar dos anos ele foi povoando meu
imaginário com a uma aura meio indefinida de figura
lendária. ontem – domingo, 20/10/2013, ele esteve no
sarau da casa amarela com seus companheiros do
sarau literatura nossa de suzano e pude finalmente, ao
vivo e a cores e em carne e osso, conhecer o lendário
poeta sacolinha e confirmar por alguns poemas que
ele falou para o povo da casa, todas as suas qualidades
de poeta extraordinário e ímpar cuja poesia simples
fala a linguagem direta do povo. também fiquei
surpreso e extremamente sensibilizado com a grande
poesia e musicalidade dos poetas e escritores do sarau
nossa literatura de suzano e com o seu adiantado nível
de organização e ações realizadas para resolver alguns
problemas cruciais e inerentes aos grupos de arte e
cultura que atuam nas periferias, que são questões
referentes ao resgate e registro dos trabalhos dos
artistas populares e a criação da sua memória, a
criação e a ocupação de espaços culturais e a criação
de público para os trabalhos desenvolvidos. exemplo
concreto disso é o vídeo literatura, mistura de poesia e
cinema que já está na 2º volume e promove o registro
de trabalhos de seis integrantes do literatura nossa, a
saber, os poetas e escritores sidney leal, débora garcia,
elisabete da silva, sacolinha, francis gomes e nelson
olavo, vídeo esse que ao ser exibido provocou tantos
comentários e discussões que alguém teve que lembrar
que ontem era dia do sarau e não do blábláblá. na
verdade acho que acabou sendo um blábláblá dentro do
sarau da casa amarela de onde saí com a convicção de
que devemos estudar a experiência do literatura nossa
de suzano para aprender alguns atalhos para resolver
muitos dos nossos problemas cotidianos.

Akira Yamasaki – 21/10/2013.

Débora Garcia

Sacolinha










Sidney Leal




Fotos: Lígia Regina